Nasci na bela ilha de Florianópolis, mas fui criada em um bairro humilde da cidade vizinha de Palhoça, em Santa Catarina. Sou fruto de uma gravidez inesperada e meus pais me criaram com muita dificuldade. Morávamos numa casinha de madeira no terreno dos meus avôs paternos. Apesar de tudo, a pobreza não foi nosso maior problema. Para mim, o pior foi a ausência de religião no lar.
Quando tinha nove anos de idade, fui convidada pelo vizinho para participar dos cultos que ele fazia com a família dele. Pedi autorização aos meus pais e toda noite me unia àquela família para orar e ler trechos da Bíblia. Especialmente as histórias do Gênesis me deixavam impressionada. Comecei a mudar minhas atitudes e meus pais ficaram preocupados, achando que eu estava ficando “fanática”. Proibiram-me de participar dos cultos e resolveram rezar o terço em casa. Para o meu irmão e para mim, aqueles eram momentos muito desagradáveis. “Tudo bem que a gente reze, mas não precisam ficar com essa cara de tristes”, pedia ele. Eram minutos realmente maçantes e, com o tempo, meus pais acabaram desistindo da ideia e tudo voltou a ser como antes. Que pena. Perdemos uma grande chance de conhecer melhor a Deus. E meu encontro com o Deus da Bíblia teria que esperar mais alguns anos.
Pensando no melhor para mim, com muita dificuldade, meu pai – que era professor da escola pública em nosso bairro – havia me matriculado em uma escola particular no centro da cidade. Mas aquilo contribuiu ainda mais para piorar minha baixa autoestima. Meus colegas eram quase todos filhos de famílias ricas e eu sofria bullying (naquele tempo nem se sabia que isso tinha nome). Diziam que eu tinha cheiro de peixe por ser da Barra do Aririú (meu bairro era praticamente uma vila de pescadores) e me desprezavam por qualquer coisa. Por causa disso, meu desejo era de crescer logo, ter dinheiro, respeito, ser alguém.
À medida que fui crescendo, minha carência emocional também se ampliou. Pensava que, se pudesse chamar a atenção das pessoas de alguma forma, seria considerada importante. O desenvolvimento do meu corpo foi relativamente precoce e procurei usar isso em meu favor. Queria ser bonita e admirada. Arrumava-me e me vestia de um jeito que pudesse atrair os olhares. Isso me dava uma sensação de “poder” e me fazia pensar que era alguém. Triste ilusão...
Com o tempo, imaginei que a felicidade viria com a adolescência e os tão esperados 15 anos, quando meu pai me permitiria sair com as amigas, ir a danceterias, sair à noite. Era o meu “sonho de liberdade”. Era minha esperança de satisfação, de realização. Mas sair com as amigas, voltar tarde para casa, conhecer novas pessoas (tão vazias quanto eu) – nada disso me fez feliz. Na verdade, a insatisfação parecia aumentar cada vez mais. Sempre que voltava para casa e colocava a cabeça no travesseiro (por mais que isso pareça clichê), sentia a mesma tristeza; a saudade de algo que eu nem sabia o que era; uma angústia profunda e indescritível. Parecia que eu sempre estava em busca de amor e felicidade, e quando pensava que havia encontrado, mais distante esse amor e essa felicidade ficavam.
Creio que naquela manhã de véspera de Natal comecei a “arranhar a ponta” de algo grandioso que mudaria por completo meus valores, minha maneira de ver a vida, meus sonhos. Mas também teve início uma verdadeira luta dentro de mim – a luta da vaidade contra a entrega, da carne contra o espírito.
Certa noite, cheguei em casa depois de passar algumas horas na danceteria com minhas amigas. Estava cansada, desanimada e sem sono. Senti Deus me dizendo que eu devia ler a Bíblia, mas não tínhamos nenhuma em casa. Quando passei pela sala, mal pude acreditar: havia um Novo Testamento de bolso sobre a mesa de centro! Abri o pequeno volume e encontrei algumas promessas listadas nas últimas páginas. Fui conferindo uma por uma em busca de sentido, perguntando-me como poderia tornar realidade aquelas coisas. Como Deus poderia me dar paz? Como Ele poderia me dar esperança? Como Ele podia me amar?
Dias depois, abri o livro do Apocalipse e comecei a ler com muito interesse. Cheguei à parte que fala das bestas e das pragas e tive medo. Depois, li que Deus tem um povo especial sobre a Terra e pedi: “Senhor, quero fazer parte desse povo. Mostra-me quem são eles. Ajuda-me a entender o Apocalipse.” Continuei lendo o livro por vários dias.
Algum tempo depois, dois homens vestidos com roupas sociais bateram à nossa porta. Eram adventistas do sétimo dia e estavam oferecendo um curso bíblico. Do Apocalipse!
Com muito interesse, meu pai e eu estudamos com eles a Bíblia e pudemos perceber que nossas dúvidas tinham respostas. Finalmente, eu podia ver ordem em meio ao caos e descobri que Deus tinha um plano para minha vida. Aos poucos, comecei a sentir o amor que sempre busquei.
Confesso que não foi fácil vestir saia longa e me dirigir à pequena casa de madeira que servia de local de reuniões da igreja adventista em nossa comunidade. Tive que vencer a vergonha e lutar contra o preconceito de pessoas que viam os crentes não católicos como esquisitos e fanáticos. Os adventistas eram um grupo bem pequeno ali. Na igreja, quase não havia jovens e os mais velhos tinham uma religião com ênfase legalista, muito focada em regras e normas. Realmente não era fácil para uma adolescente conviver com um grupo assim, mas procurei me esforçar. No entanto, algo acabou atrapalhando ainda mais minha integração à igreja (infelizmente, o inimigo de Deus é especialista nessas coisas).
Quando estava cogitando a possibilidade de voltar a frequentar os cultos, o inimigo preparou outra armadilha: fui chamada para trabalhar numa famosa loja no Shopping Beira Mar Norte, em Florianópolis. Eu havia sido selecionada para o cargo de vendedora. Minha mãe e minha amiga me proibiram de perder a oportunidade e acabei cedendo. Tornei-me uma boa vendedora, mas aquele ambiente de consumismo e os expedientes aos sábados enfraqueceram ainda mais minha fé.
Certa ocasião, estava com algumas amigas tomando banho de sol na Praia da Pinheira (onde eu costumava ir com elas de vez em quando). Com calor, resolvemos tomar um banho de mar. Enquanto estávamos ali nos divertindo e nos refrescando, de repente, o céu se fechou e a água começou a ficar vermelha como sangue. Minhas amigas gritaram e me pediram para explicar aquilo. Fiquei congelada. Eu sabia o que estava acontecendo, mas não queria acreditar que fosse verdade. Ajoelhei-me ali mesmo e comecei a clamar: “Senhor, faça o tempo voltar! Dê-me outra chance. Faça o tempo voltar!” Acordei assustada com o som da minha voz e agradeci a Deus porque, de certa forma, Ele havia feito o tempo voltar para mim.
Dois meses depois, a Lilian, que antes me tentava com convites para sair com ela, acabou sendo um grande instrumento de Deus. Com sérios problemas em casa, ela me procurou e pediu-me para estudar a Bíblia com ela. Aquilo foi um milagre! Em lugar de irmos para a danceteria ou para um barzinho, ficávamos em casa orando e estudando a Palavra de Deus até altas horas. Meu coração voltou a se aquecer, cheio de fé e esperança. Mas Deus tinha mais bênçãos reservadas para mim.
Certa quarta-feira, recebi o convite de uma amiga para ir ao culto na Igreja Adventista Central de Florianópolis. Disse-lhe que eu não poderia ir, pois teria aula naquela noite. Quando cheguei ao colégio (o Instituto Estadual de Educação, na Ilha de Florianópolis), descobri que todos os professores tinham faltando e que as aulas haviam sido suspensas! Então, fui à igreja, sem suspeitar que naquele culto minha vida mudaria para sempre.
A reunião já havia começado quando um jovem se sentou atrás do banco em que minha amiga e eu estávamos e me entregou um folheto bíblico. Quando me virei para agradecer, pude ver o sorriso lindo dele e apenas agradeci a gentileza. Após o culto, ele veio conversar comigo e descobrimos que tínhamos muitos interesses em comum. O Michelson apelou para que eu voltasse para Jesus e para a igreja. Para encurtar a história, dois meses depois, começamos a namorar e ele foi um poderoso instrumento de Deus para me firmar no caminho da verdade. Conforme eu descobri depois, ele estava orando para que Deus lhe desse uma namorada cristã. Conhecer meu futuro esposo durante um culto de oração foi outro dos presentes que o Senhor me deu.
No dia 25 de setembro de 1994, minha amiga Lilian e eu fomos batizadas (assista aqui) na mesma igreja em que conheci meu amor. Era como se naquelas águas tivessem ficado todas as minhas frustrações, desilusões, pecados e desesperança. Jesus estava me dando uma nova vida, um novo futuro em que o amor substituiu o medo e preencheu o vazio que me atormentava desde a infância.
Hoje, quase vinte anos depois, meu marido e eu temos um casamento abençoado, três lindos filhos e posso comprovar a cada dia que os planos de Deus são os melhores para nós. Vale a pena viver Seu projeto original para os relacionamentos, para a saúde, para a família, pois, quando entregamos nosso caminho ao Senhor e confiamos nEle, Ele faz tudo o que é possível para nos ver felizes (Salmo 37:5).
Nota: Essa história pode ser lida em detalhes aqui.