Ao
completar 30 anos, a bela atleta norte-americana Lolo Jones surpreendeu o
mundo, não necessariamente por ter sido uma das finalistas na corrida dos 100
metros com barreiras, nas Olimpíadas de Londres. O que a tornou ainda mais
famosa foi a declaração dada numa entrevista anterior às competições. Jones
disse que ainda é virgem e que está “se guardando” para o futuro marido.
Esse
tipo de fidelidade (ao futuro esposo e a suas convicções) e a coragem para
declará-la publicamente surpreendeu tanto os jornalistas que a condição de
virgem da atleta acabou chamando mais atenção do que a própria classificação
dela para as semifinais. Tanto é assim, que o título da matéria do jornal O Globo foi este: “Virgem de 30 anos [e
não “atleta”, “corredora”, “campeã”, etc.], Lolo Jones está na semi dos 100m
com barreiras.” Jones admitiu: “Mais difícil do que estudar para a faculdade,
mais difícil do que treinar para as Olimpíadas tem sido me manter virgem antes
do casamento. Já fui muito tentada. Vários caras me disseram que, se fizesse
sexo, eu correria mais rápido.”
“Caras”
que adoram brincar de seduzir e que encaram mulheres como se fossem prêmios a
ser conquistados, usando os mais ridículos argumentos para tê-las às vezes por
uma única noite, esses não faltam por aí. Mas Jones já percebeu que não vale a
pena se entregar a esse tipo de canalha. Compensa mesmo é esperar aquele que a
tratará como princesa, como mulher digna, num relacionamento de amor e
respeito. Parabéns à Jones pela coragem de declarar algo que alguns têm
encarado com vergonha, e por surpreender a imprensa ao mostrar que ainda há
pessoas fieis e regidas por princípios.
Valor antigo?
Em
2010, comprei a reimpressão da revista Realidade
de janeiro de 1967, que na época foi apreendida pelo governo militar. Degustei
aos poucos (como fazia nos meus tempos de faculdade) as reportagens bem
escritas e em profundidade que caracterizaram essa revista que deixou saudades.
A última página trazia a seção “Brasil pergunta”, e, nessa edição, a questão
tratada é a seguinte: “A mulher deve ser virgem ao casar?” Gostei da resposta
dada pela radialista Sarita Campos (mantive o português da época, como está na
revista):
“Seria
ideal para um homem que sua futura espôsa fôsse pura e virgem. A pureza, no
entanto, pode existir independentemente da virgindade. Há môças virgens que são
levianas, fracas, sem escrúpulos, mas que conservam a virgindade como garantia
de casamento. Há môças que por inexperiência, falta de vigilância, ou excesso
de amor e confiança perderam a virgindade. E no entanto são môças dignas,
sérias, excelentes para o casamento. Recebo cartas de rapazes desorientados que
me perguntam se devem ou não casar com a môça que confessou ter perdido a
virgindade. E eu os aconselho a estudar a fôrça de seu caráter e a casar-se se
chegarem à conclusão de que ela merece o seu amor. Acho que a môça deve se
conservar virgem e pura, ilustrando o seu espírito e precavendo-se contra os
aproveitadores que delas se utilizam apenas para seu prazer físico. A môça
noiva deve se fazer respeitar pelo noivo, a namorada pelo namorado, a mulher pelo
homem.”
Os
conselhos de Sarita continuam oportunos e sábios, mesmo depois de quatro
décadas. Eu apenas acrescentaria o seguinte: tudo o que ela escreveu se aplica
também aos homens.
Mas
os tempos mudam e os costumes também. Não seria, então, a virgindade um “valor
antigo”, resquício do conservadorismo e do machismo do passado? Creio que não e
vou demonstrar com o exemplo de outra balzaquiana.
Tempos
atrás, o jornal The Guardian publicou
o relato da britânica Sophie Atherton. Ela conta que se manteve virgem até os
32 anos – em parte por conta de uma doença grave no início da vida adulta, em
parte por escolha, por ter outras prioridades. Sophie classifica sua decisão
como uma “rebeldia” e defende as vantagens de esperar. Ao passar o início da vida
adulta longe de um relacionamento, ela diz que aprendeu a ser mais independente
e paciente.
Leia
a seguir alguns trechos do depoimento de Sophie e note como ela menciona razões
que dão sentido ao conselho bíblico de esperar pelo casamento para se ter vida
sexual ativa:
“Antes
de atingir a idade do juízo, eu estava desesperada para perder minha virgindade
enquanto ainda fosse ilegal. Achei que fosse desafiar a autoridade. Quem são
eles para me dizer quando eu estava pronta para transar? Mas não aconteceu,
embora meu primeiro beijo, aos 15 anos, tenha quase ido longe demais. Ao
contrário, acabei fazendo algo muito mais rebelde e incomum: eu me mantive
virgem até os 32 anos.”
“Como
minha virgindade persistia, eu tive a experiência incomum de me desenvolver e
crescer sem a influência de um parceiro. Eu não odeio homens – muito pelo
contrário; por ter passado tanto tempo sem um homem no meu pé pude apreciar até
melhor a companhia deles. [...] Enquanto minhas amigas lidavam com esse tipo de
distração, gastei 20 anos fazendo o que queria, vivendo em várias cidades,
mudando por causa do trabalho.”
“Ganhei
muito ao adiar o início da minha vida sexual. Tenho certeza de que isso foi, em
parte, responsável pela minha força de caráter e minha natureza decidida. Tenho
que dar crédito aos meus pais por me darem as fundações de uma quase inabalável
autoconfiança.”
“Para
uma mulher, falar ‘não’ e fazer sexo apenas quando ela realmente quer é um ato
básico, mas muito poderoso. Demonstra que ela é independente e livre, e, talvez,
quanto mais tempo uma mulher se mantém virgem, mais ela tem respeito por si
própria e controle sobre seu próprio corpo.”
“O
legado de minha longeva virgindade vai além da independência – acho que ela me
deu uma resistência extra para lidar com as dificuldades da vida e me ensinou a
ter paciência. Nossa cultura pode ser a de ‘tudo agora’, mas eu aprendi a
esperar. E uma das melhores coisas foi em relação ao sexo em si. Enquanto
algumas mulheres da minha idade perderam seu interesse, eu ainda acho tudo tão
excitante quanto a primeira vez.”
Percebeu
as vantagens? (1) Com a maturidade, a pessoa tem melhores condições de fazer
escolhas sem ser movida pelos apelos da mídia e pela pressão do grupo; (2) a
rebeldia natural da adolescência pode levar a escolhas infelizes; (3) antes de
iniciar um relacionamento amoroso mais sério, a pessoa pode se desenvolver em
outras áreas importantes, como os estudos e a carreira; (4) mais madura, a
pessoa pode se relacionar de maneira positiva com o sexo oposto e entender as
diferenças naturais entre homens e mulheres; (5) dizer “não” para aquilo de que
discordamos reforça nossa autoestima e solidifica o caráter; (6) manter a
virgindade e o controle sobre o próprio corpo reforça o respeito próprio; (7)
adiar a iniciação sexual para o contexto matrimonial ajuda a manter o interesse
sadio no sexo, pois ele não foi banalizado antes; (8) (e este é por minha
conta) aprender a esperar desenvolve a paciência e a confiança no Deus que
supre nossas necessidades.
Virgindade e divórcio
Além
das vantagens presentes de se esperar, há também benefícios futuros. Uma
pesquisa feita pela Universidade de Iowa mostrou que mulheres que perdem a
virgindade muito cedo têm maior probabilidade de se divorciar, principalmente
se foram pressionadas a fazer sexo. Estudo publicado na edição de abril do Jornal do Casamento e da Família
entrevistou 3.793 americanas. Mais de 30% das mulheres que perderam a
virgindade enquanto adolescentes se divorciaram depois de cerca de cinco anos
de casadas. Quase metade delas se divorciou com cerca de dez anos de casadas.
Já entre as mulheres que esperaram até a idade adulta para perder a virgindade,
apenas 15% se divorciaram após cinco anos e 27% após dez anos.
A
pesquisa também trouxe um número interessante: uma em cada quatro mulheres que
começaram a vida sexual cedo ficou grávida antes de se casar. Entre as que
esperaram até a idade adulta para começar a vida sexual, esse número é de uma
para dez. Entre todas as entrevistadas, 1% perdeu a virgindade com 13 anos ou
menos, 5% com 14 ou 15 anos, 10% com 16 ou 17. Dentre elas, 42% disseram que
sofreram pressão para fazer sexo. Quase 60% das mulheres entrevistadas
preferiram esperar até os 18 anos para se relacionar sexualmente. Dentre elas,
22% disseram que foram pressionadas.
Arrependimento
Além
do divórcio há o arrependimento – e esse pode vir bem cedo, antes mesmo do
casamento. Segundo pesquisa da OneHope, ministério jovem fundado em 1987 pelo
missionário Bob Hoskins, dois terços dos adolescentes gostariam de ser virgens
novamente. Alguns resultados da pesquisa feita com 5.108 jovens, com idade
entre 13 e 18 anos, são os seguintes:
61%
dos adolescentes gostariam de se casar virgens.
82%
acreditam que o plano de Deus é que o casamento dure a vida toda.
80%
citam os pais como fonte de forte influência em seus pensamentos e ações.
Porém,
34% passam menos de 15 minutos por semana discutindo assuntos importantes com
seus pais.
65%
acreditam que a verdade é relativa.
69%
assistem MTV todas as semanas.
A
despeito de a maioria dos jovens entrevistados assistir a programas de conteúdo
“liberal” e se dizer relativista, no fundo, possivelmente ouvindo (sem
compreender direito) um anseio intrínseco implantado por Deus no coração,
querem se casar virgens e acreditam que o casamento deve ser para a vida toda.
Pesquisa já demonstrou que praticar sexo antes do casamento piora a vida sexual
depois do casamento, e que praticar sexo sem compromisso e romantismo leva frequentemente
à depressão (especialmente no caso das mulheres).
Assim,
os que se preservam desde já para o casamento futuro estão colaborando consigo
mesmos (e com o cônjuge) lá na frente: promoverão um casamento de mais
cumplicidade (ambos descobrirão juntos os encantos do sexo) e maior fidelidade
(não haverá eventuais desconfianças quanto a experiências e relacionamentos
passados). O ato sexual é uma experiência muito íntima e que envolve
neurotransmissores poderosos como a oxitocina, a vasopressina e a dopamina.
Eles servem para criar vínculos fortíssimos entre homem e mulher. Por estar
associado a fortes emoções, o sexo promove o “arquivamento” de memórias e
sensações. E tudo isso será levado para o novo relacionamento. Não é melhor
levar um “arquivo vazio” para o casamento e enchê-lo com as boas memórias e
sensações vividas no matrimônio, com o homem/mulher da sua vida?
Num
fórum de discussões sobre sexualidade, uma internauta escreveu: “Não caia na
besteira de que se deve provar antes;
não precisa. Faça os cálculos, espere, você terá uns trinta anos de vida sexual
após o casamento. Para que correr o risco de ser infeliz. Não só eu, mas todas
as minhas amigas se arrependeram amargamente [de ter feito sexo antes do
casamento]. Defenda seus sonhos, sua felicidade e a continuidade da família,
que mais cedo ou mais tarde é o sonho de toda mulher.”
Mas,
e se o erro foi cometido, o que fazer? Paulo, que manchou seu passado com atos
pecaminosos e, depois, passou pela conversão, responde: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando
para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo” (Fl 3:13, 14). Esse alvo
pode ser um casamento abençoado.
Preserve o presente
Outra
rara figura pública que teve coragem de declarar sua virgindade foi a atriz
Isabelle Drummond, de 17 anos. Em entrevista à revista Quem, ela disse que pretende fazer sexo só depois do casamento.
“Isso é uma coisa que eu quero. É um princípio meu, um princípio bíblico, da
igreja”, disse a adolescente, que é evangélica. Isabelle ficou famosa
interpretando a Emília no “Sítio do Picapau Amarelo”, e disse também à revista:
“Sou muito tímida e sei que, quando for para acontecer, vai acontecer. Tenho
outros focos agora. Estou trabalhando e estudando muito.”
Parabéns
também à Isabelle por, assim como Jones e Sophie, não ter vergonha de ir na
contramão do mundo, nesse aspecto, e pela coragem de manifestar sua decisão. E
você, tem coragem? Aceita o desafio? Quer recomeçar?
Não
se esqueça de que, com respeito à experiência sexual, há pelo menos três grupos
de pessoas: (1) virgens puros, (2) virgens impuros e (3) não virgens que foram
purificados. O primeiro grupo é o ideal; são aquelas pessoas que valorizam a
virgindade, que procuram manter a mente e o corpo puros (e conseguem isso por
meio de uma relação íntima com Deus). O segundo grupo é o daqueles que procuram
preservar unicamente a virgindade genital motivados por certas preocupações (gravidez,
por exemplo), mas são física e mentalmente impuros. Fazem de tudo, menos penetração genital, e se consideram hipocritamente
“virgens”. E há o terceiro grupo, o daquelas pessoas que caíram no passado, mas
que receberam o perdão de Deus e foram restauradas ao status de “virgens espirituais”.
A
que grupo você quer pertencer? Em qual deles você está? A escolha é unicamente
sua. As consequências dessa escolha
também. Por isso, preserve o presente
para quem merece e desfrute-o no momento e no contexto certos. Seu futuro agradece.
(Michelson Borges é
jornalista e mestre em teologia; artigo originalmente publicado na revista Família Esperança)