Três pesquisadores canadenses, num estudo publicado recentemente no jornal Psychological Science, resolveram testar a extraordinária tese de que o pensamento positivo faz as pessoas se sentirem melhor – e elas acabam por produzir mais, conquistar seus objetivos, viver melhor. Não há dúvida de que o pensamento positivo deu certo para o pastor americano Norman Vincent Peale. Em 1952, ele escreveu O poder do pensamento positivo e praticamente inaugurou um veio bilionário da psicologia e do mercado de autoajuda. E agora a pesquisa canadense, feita com jovens universitários, comprovou que, sim, tecer elogios a si próprio dá resultado. Infelizmente, não é o resultado esperado. As palavras doces (“eu sou uma pessoa adorável”) ditas em voz alta até beneficiaram, modestamente, quem já apresentava autoestima elevada. Mas pioraram bastante a autoimagem de quem mais precisava de uma forcinha. Quem tinha autoestima reduzida – medida por um questionário-padrão desenvolvido nos anos 60 – saiu pior ainda da experiência. “Não é que o pensamento positivo baixe a autoestima em geral, mas ele pode prejudicar alguns indivíduos – de cara, aqueles que já têm baixa autoestima”, disse à Época uma das autoras do estudo, Elaine Perunovic, ph.D. em psicologia e professora na Universidade de New Brunswick.
Uma das explicações dos autores é que, quando ouvimos afirmações radicalmente opostas àquelas em que acreditamos, nós não apenas nos mostramos céticos, como tendemos a aderir com ainda mais força nossa posição original. Um socialista moderado, ao ouvir um amigo tecer loas ao liberalismo, tende a se sentir mais socialista. Um corintiano bissexto, rodeado por palmeirenses numa roda de bar, tende a demonstrar uma paixão inaudita por seu time. E, na opinião dos pesquisadores, uma pessoa que não se considera lá essas coisas, ao ouvir de si própria que é genial, ou linda, ou adorável, tende a achar-se mais desprezível que antes.
“A baixa autoestima é um problema crescente hoje”, diz a psicóloga Cecília Vilhena, professora da PUC de São Paulo. “Mas esse estudo evidencia a inexistência de soluções mágicas e as limitações da autoajuda.” (...)
Um dos maiores problemas da doutrina do pensamento positivo é que ela propõe agir sobre os efeitos, não sobre as causas. É certo que pessoas com baixa autoestima produzem menos do que são capazes, e estimulá-las é um dos caminhos para que melhorem. Mas o estímulo tem de vir acompanhado de treinamento. (...)
O ideal, portanto, é que tenhamos uma autoestima condizente com nossas capacidades. Ou um pouco acima, para nos incentivar a progredir. “Mas, no mundo de hoje, padrões inatingíveis de estética e sucesso podem levar a pessoa média a desenvolver uma noção de fracasso”, diz a psicóloga Cecília Vilhena. Mais gente com baixa autoestima significa mais gente propensa a tentar o pensamento positivo. Mas lembre-se: não vai dar certo.
(Época)
Nota: Sabe o que dá certo, comprovado na vida de muitas e muitas gerações? "Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra" (Salmo 121:1). Ou seja, do Alto e não da autoajuda.[DB]